21.5.13

Um 'Olhar' pela nossa História

TRAMAGAL

(Sede de freguesia desde 1754) – RTP, f.131

“… uma vinha q̃ he no tam̃gal…” (LK, mês de Março, f.4, registo de abertura dos primeiros anos do séc. XIV, senão mesmo séc.XIII). Seja como for, a existência do Tramagal pode sem duvida colocar-se no séc.XIII, porque este livro refere-se a acontecimentos anteriores à sua redacção.



Relativamente a este top. são conhecidas várias referencias do séc.XIV, como por exemplo um doc. de 13 de Fevereiro de 1371 (AHCA, SV, 1,33):
“… hũa vjnha q̃ nos avemos q ̃ jaz no Tam̃gal tm̃ho da dta villa…”.

Também nas Cortes de 1439, em Lisboa, diziam os representantes de Abrantes (?):
Uma das melhores coisas de Abrantes é um campo da parte de além do Tejo em que mais pão e vinho se colhem; e porque el-rei D. João proibiu que matassem porcos ou veados num Tamargal que está junto com esse campo, deixou este de ser aproveitado como devia…” (Chancelaria de D. Afonso V, liv.II, fl.14v, cit. por Gama Barros, Hist. da Administração Publica, VII, 60).

Estranha-se no entanto, que a mesma localidade não venha referida no LP1 (1515) e no Cadastro da Estremadura de 1527. Segundo A. Costa e o RTP é top. Exclusivo.

Origem idêntica à da top. anterior, ou seja, por haver na zona muitas tramagas (no português arc. Tamargal ). Este é também o sentido da sua origem lendária (atribuído à rainha D. Leonor, mulher de D. João II).
Só que desta vez, a História precede a lenda….

(Bibliografia:
Eduardo Campos e Joaquim Candeias Silva em "Dicionário toponimico e etimológico do Concelho de Abrantes".
Patricia Fonseca em "Nas asas de uma borboleta". )


3 comentários:

TZ disse...

Encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo a “Mercê coutado do Tramagal” concedida pelo rei D. João II a D. João de Almeida em 17 de Abril de 1492.
Este rei era casado com a rainha D. Leonor que na lenda exclama "grande Tramagal" dando nome a esta terra.
A família real esteve muitas vezes no Ribatejo. Próximo de Santarém ocorreu o trágico falecimento do Príncipe Afonso na sequência da queda de um cavalo. Uns anos antes de conceder a referida "Mercê coutado do Tramagal", em 1483, o rei estando em Évora “com a Raynha e o Príncipe, e sua Corte se foy a Villa Dabrantes”. A viagem decorreu entre 12 e 15 de Julho, sendo “de aceitar que o monarca subiu o Alentejo, por Arraiolos, Pavia, Montargil”…
Os dias estarão grandes e quentes, seguros, a comitiva real sai de Montargil e em vez de escolher o caminho do Domingão, mais longo, opta por dirigir-se directamente para o Tejo. O trajecto leva-os por ermos sem nome, sabe-se do pendor da formosa Leonor para fundar povoações, não é difícil imaginá-la com El Rei a baptizar a Biquinha (3 milhas a Norte de Montargil), o sítio onde passaram uma ribeira - Água Travessa (meio caminho), mais à frente as Bicas e, à vista do rio, do grande vale, do belo campo de tramagas, o Tramagal…
A “Princesa Perfeitíssima” protegeu Gil Vicente, fez imprimir as “Viagens de Marco Polo”, fundou as Caldas da Rainha, criou as misericórdias… As lendas são muitas histórias...

RL disse...

Meu amigo,
é sempre um previlégio e... diria mais, um gosto.
(Já agora e antes de mais, um Abraço).
Deu-me para rato-de-biblioteca, já que me impuseram...ter tempo!
- Boa e sapiente achega.
"As lendas são muitas histórias..."; e há lendas que não deixam de SER História! (e vice-versa; digo eu!).

TZ disse...

Já tinha escrito esta "achega" há um tempo, e publicado numa nota no facebook... Pareceu-me oportuno reproduzi-la em complemento ao teu excelente post, é bom ir fixando essas histórias e lendas...
Grande Abraço