30.8.12

Tu que passas por mim tão indiferente

No teu correr vazio de sentido,
Na memória que sobes lentamente,
Do mar para a nascente,
És o curso do tempo já vivido.

Por isso, à tua beira se demora
Aquele que a saudade ainda trespassa,
Repetindo a lição, que não decora,
De ser, aqui e agora,
Só um homem a olhar para o que passa.
Não, Tejo,
Não és tu que em mim te vês,
- Sou eu que em ti me vejo!

Tejo desta canção, que o teu correr
Não seja o meu pretexto de saudade.
Saudades tenho sim, mas de perder,
Sem as poder deter,
As águas vivas da realidade!

Não, Tejo,
Não és tu que em mim te vês,
- Sou eu que em ti me vejo!

Carminho


2 comentários:

O Cidadão abt disse...



"O Tejo corre no Tejo", poema cantado na segunda pessoa do singular que nos reporta para o ramal do Tua!
Já faltou mais.

RL disse...

Ora viva,

Atento cidadão,
ou melhor, qualquer um, julgo que mesmo o cidadão mais abstraído se indigna com a certeza para onde caminha o ‘interior’ perante os evidentes indícios que a realidade nos atira à cara.

Vemo-lo desertificado, sentimo-lo velho, abandonado, castigado!

Duma forma geral o nosso património (abrangente) encontra-se em ruina ou vandalizado, outro esquecido ou envergonhadamente dado a conhecer. Cinzento. (Embora tão apreciado e usufruído por gentes de língua estranha à de Camões.).

Ainda assim, inexplicavelmente, ao depararmo-nos com ele, até mesmo nos nossos dias, continua a surpreender-nos, causa-nos perplexidade, admiração, orgulho (de olhos baixos) por ser nosso.

É certo que se vão perdendo irrecuperáveis potencialidades intrínsecas.

Enfim!

Garanto que o iremos pagar, ou melhor já começámos a dele ser espoliados, nós e as próximas gerações.

No entanto, não há como o nosso clima, (a luz), a comida...e as Gentes!

Por onde tenho palmilhado… (Por este rio acima, Deixando para trás, A côncava funda, Da casa do fumo, Cheguei perto do sonho, Flutuando nas águas, Dos rios dos céus . . . como escrevia Fausto), sem pejo algum, tenho gosto em afirmar que é inigualável!

Temos é de o ser no resto.

Cidadão abt,
é sempre um gosto.
RL