5.5.10

No passado 1º de Maio não estive em Tramagal. Se aí estivesse, gostava de me ter acercado do mirante a ver a vista e a pensar na vida... O dia foi passando e eis senão quando,  já noite, inesperadamente me sai o mirante ao caminho: estava na Feira do Livro de Lisboa, num dos primeiros stands em que reparo, em destaque a novidade: "Keil do Amaral - no centenário do seu nascimento". Foi inevitável lembrar-me do monumento a Eduardo Duarte Ferreira onde, até 1974, a cada 1º de Maio, se rumava em homenagem ao fundador da metalúrgica da localidade...
Keil do Amaral teria feito 100 anos no passado dia 28 de Abril. Pegando naquele livro no Parque Eduardo VII, onde também deixou marcas, imaginei o seu dia 1º de Maio de 1952 passado em Tramagal. Vejo-o no mirante a olhar o Tejo, encontro-o a inaugurar o abastecimento público de água junto ao "marco do jardim" (traço dele?), pensando, sorrindo:
"Há quem veja na Arquitectura apenas o meio de resolver vários problemas da maneira mais racional. Há, pelo contrário, quem julgue elevá-la, considerando os arquitectos seres de eleição, fadados pelos deuses para deleitar os mortais com o luxo de algumas obras belas e subtis, saídas directa e únicamente dos recônditos da sua imaginação e sensibilidade.
Ora, se a Arquitectura não é uma manifestação tão simplesmente material como pretendem os primeiros, também não é um luxo nem um simples produto de locubrações artísticas.
Considero, por isso, como o maior título de glória e de orgulho que um arquitecto pode reinvidicar, a certeza de que os seus dons de artista, a sua cultura e a sua inteligência servem para que a Humanidade possa traduzir, plasticamente, o jogo eterno e maravilhoso da sua evolução." (excerto da introdução de "A Arquitectura e a Vida", por Francisco Keil Amaral, Edições Cosmos, 1942)

3 comentários:

João Baptista Pico disse...

Keil do Amaral deu qualidade técnica e artística a tudo o que desenhou e criou.
Não teve que se sujeitar a um Plano Director.
Eduardo Duarte Ferreira não criou a sua fábrica a sua metalúrgica, porque havia um Plano Director a dizer onde se podia instalar fábricas e quais os requesitos para essa instalação.
Isto tudo para mostrar às gerações mais novas, de que hoje "o pequeno mundo do Tramagal", o "pequeno mundo municipal de Abrantes" exibem e asfixiam-nos com PLANOS e mais Planos.
E nada nasce, nem renasce.
Tramagal esta a 3 km do nó da A-23, mas não pode aspirar a lá chegar. O 1º ministro sabe que há uma Mitsubishi que está a crescer e a retomar uma nova produção, mas não sabia o nome do Tramagal - como bem referiu o TZ num post anterior - e já não se lembrava de quando deixou o nó de Montalvo/Rio de Moinhos dessa A-23 classificado de RAN à sua volta, sem uma escapatória para uma via directa a uma ponte da Amoreira,Rio de Moinhos para o Tramagal.
O desenvolvimento económico do Tramagal ficou suspenso no dia em que havendo nó na A-23 em Montalvo a 3 km do Tramagal o Plano Director não fez mais incluir uma zona de passagem liberta da sobrecarga da classificação ambiental de Reserva Agrícola Nacional.
Como é que poderá haver desenvolvimento no Tramagal nestas condições de ditadura do Ordenamento. E poupo aos amigos ambientalistas de sebenta o trabalho de me lembrarem que na RAN não se mexe por A+B razões...
Conversa da treta! Tudo para adormecer o povo.
Em Montalvo a par do terreno agrícola está o maior eucaliptal da zona entre a A-23 e o rio Tejo. Basta olhar e ver...
Se hoje o Sr. Comendador aparecesse no Tramagal já não conseguiria mais criar as suas fábricas. Mas hoje, dizem há mais LIberdade! Há maior respeito ambiental! Pois dizem isso?!
Então comam-no ao almoço...
Hoje há,mas é mais trafulhas!!!
E vendedores de banha da cobra...

TZ disse...

Keil do Amaral defendia a existência de planos. Em 1964 um filho seu, homónimo, apresentou um plano de urbanização para o Tramagal e um plano de expansão da MDF.
Em meu entender, em Portugal o problema do planeamento não é existir ou não. Também não sou daqueles que dizem que "mais vale um mau plano do que plano nenhum", a prática trouxe exemplos vários do quanto estavam errados...
Face à complexidade e diversidade de intenções para um mesmo território, nem sempre concordantes e por vezes conflituosas, não vejo como fugir ao exercício de elaborar planos territoriais, para articular, tornar mais eficiente, salvaguardar valores e defender o interesse público.
O problema do planeamneto é de qualidade - há planos muito maus: tecnicamente mal executados, manipulados para proteger particulares interesses, irrealistas nas previsões sobre que trabalham, mal equacionados nos custos e financiamentos que exigem, com zonamentos mal delimitados, exagerados na defesa do "ambientalmente correcto", desligados da vontade da população,.... e quando um mau plano ganha força de lei o povo é que paga...

João Baptista Pico disse...

Em 1947 o arquitecto suíço De Gröer, fez um Plano para Abrantes quando havia outro conceito de planeamento: procurar antecipar-se às necessidades das populações e dotar o espaço físico das melhores linhas de orientação para as cidades ou vilas crescerem harmoniosamente.
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Como se sabe os PDM da primeira geração e os Planos de Urbanização que estão nas matrizes dos primeiros, tiveram uma sobrecarga ideológica onde não se procurava facilitar a fixação das populações adequando o espaço físico existente e no respeito com alguma tradição local.
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Há dias numa n/ troca de comentários sublinhava a necessidade de ajustar os custos de urbanização com o índice de construção por forma a poder fazer-se um equilíbrio entre os custos inerentes à urbanização e o custo do terreno por fogo.
Muitas vezes os Planos obrigam a índices de edificações fracos, que colocam os lotes urbanizados ao preço da Quinta da Marinha. Por exemplo no PUT construir em altura também é uma miragem pois num hectare para 50 habitantes em edifícios de quatro pisos ficamos pelos três lotes apenas, que ocupam uma implantação de 500 m2, donde sobejam 9.500 m2 que não aproveitando ao urbanizador acabam por inviabilizar a urbanização.
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Ninguém aceita ver um hectare estragado para 500 m2 de implantação, quando não pode facturar nesses terrenos os preços do Parque Expo 98 ou do Estoril.
Ora no caso do PUT, percebe-se que quem assim o elaborou estava mesmo de má fé ou era manifestamente incompetente. E sabendo-se que foi o vereador Pina da Costa quem orientou o PUT, não havia mesmo nada de bom a esperar do sujeito.