28.10.09

O CN está previsto para um local onde o Plano Director Municipal não permite construção, aparentemente em área do domínio público e em leito de cheia.
Pelo que nos é dado ver o projecto arquitectónico não desmerece. À semelhança do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, será mais um edifício bonito, que "fica bem" na colecção de arquitectura da CMA, investimento público com que o Município parece querer compensar a degradação do edificado nas áreas mais antigas dos núcleos urbanos e nas áreas rurais, a má arquitectura de alguns projectos recentes (por exemplo o Aquapólis), o desmazelo a que vota alguns monumentos (por exemplo no mirante, em Tramagal) e o "suburbanismo deslocado" da Chainça e arredores.
O CN no Aquapólis insere-se numa política de proximidade? Contribui para uma comunidade+viva? Promove solidariedade? Aumenta a competitividade? É sustentável?
Não me parece:
Na fase de construção pode gerar alguns postos de trabalho e na de exploração uma dezena (?) de empregos públicos;
A actividade desportiva nas disciplinas náuticas tem pouca tradição na região e a alocação de recursos a esta actividade diminui os disponíveis para outras modalidades ou para a promoção do desporto informal. É pouco provável que o remo, a canoagem ou a vela, no Tejo, venham a ser uma actividade importante na socioeconomia local;
O acréscimo de competitividade que esta despesa de mais de 1 milhão de euros provoca é pequeno, e muito duvidosa a afirmação do CN na competição existente entre equipamentos do mesmo tipo (o nevoeiro, o frio, o calor, a má qualidade da água não são vantagens comparativas). O CN não será determinante para atrair às Barreiras do Tejo muitos novos residentes;
Estes equipamentos públicos têm revelado problemas de sustentabilidade: as receitas, regra geral, não cobrem as despesas e algum impacto positivo na economia só se faz sentir indirectamente, no aumento da rentabilidade da hotelaria, da restauração e do comércio, se estão suficientemente desenvolvidos;
O CN se for implantado a uma cota inferior à do tabuleiro da ponte do comboio corre o risco de ir água abaixo.
Para se fazer um investimento deste género porque não se olha para a albufeira do Castelo do Bode? O "lago azul" tem maior potencial e pode ser explorado de forma sustentável. Está a pedir melhores acessos e que se pense Abrantes como um Concelho.
Erigir o centro náutico nas margens do "mar verde" exemplifica como nos afundamos na Europa: consumimos os fundos que excepcionalmente são postos à disposição do País sem os aplicarmos devidamente na valorização dos recursos endógenos.

2 comentários:

João Baptista Pico disse...

Quem porfia vence. Os meus comentários, por vezes ferozmente rejeitados neste blog acabaram por deixar um fundo de verdade. O Centro Náutico no Castelo de Bode proposto pelo TZ é o maior reconhecimento público que jamais esperei encontrar, depois de tantas vezes por aqui me terem condenado com a " justiça de Montemor ( a despenhação quiçá à falta de melhor, desse penhasco do cruzeiro da Penha).
Convenhamos, tanto o Tramagal ganhava em me ter a escrever vindo do norte do concelho, como este e todo o concelho, ganhavam em que a internet cumprisse o seu desígnio: aproximar boas vontades e boas ideias e cruzá-las na blogosfera.
Como candidato que fui e presidente partidário que sou, sempre pugnei por ir na dianteira desses princípios.
O conteúdo deste post que comento, vem dizer o que em dois anos o "picozêzerabt" não deixou de colocar no ar...
O tempo é bom conselheiro.
E que não haja mais lugar a picardaias dessa natureza aí por Tramagal. Tudo o que escreve hoje, não é nada - em termos gerais - que eu não tivesse já escrito, desde a minha oposição primitiva ao Aquapolis, até à tentativa dentro do PSD de defender in extremis, com Barroso primeiro ministro, a "deslocalização" do açude para a ponta da Penha diante do Cruzeiro do Tramagal.
Mas continue assim que vai bem. Tramagalenses abram bem os olhos e não esqueçam os pontos cardeais de um local que não se quer perdido nem levado a perder-se...
E não queiram ver maldade no que é ironia fina.

Lamacheira e Barca disse...

A Câmara de Abrantes sempre tentou dar uma imagem do concelho para fora sem que na realidade arruma-se a casa primeiro. Lembro-me de uma célebre comunicação do cartaz das festas do concelho feita em Lisboa com o intuito de promover as ditas festas nacionalmente, convidando os canais televisivos para a cerimónia, os quais não compareceram como é lógico. As festas da cidade de Abrantes nem dentro do concelho têm impacto de grande acontecimento quanto mais alem das nossas fronteiras. Reparo com tristeza que ainda não assumimos uma identidade que nos distinga do resto do pais. Na Chamusca temos uma festa com grande impacto regional, porque se apoiaram no exilibris da terra, a festa brava. Na Golegã passa-se o mesmo com a elevação a capital do cavalo e a exploração do mesmo. Em Constância, vila poema, todo o que envolve a vila, transporta-nos para um ambiente poético na linha de Camões. Em Vila de Rei, os enchidos são a imagem do concelho. Mais longe o Crato, explora a sua rica cozinha. E nós? Qual a nossa imagem? As nossas origens de concelhia foram esquecidas e apagadas, não temos uma identidade vincada, e todos estes investimentos enterram ainda mais aquilo que fomos e no que nos reconhecemos.